sábado, 24 de abril de 2010

No caminho da aula de Biologia, a única que Zach não tinha comigo, por já estar avançado (a única em que ele estava avançado, inclusive.), Amy esbarrou em mim de propósito, derrubando todos os meus livros no chão. Nem me incomodei em brigar ou discutir, e ela continuou andando sem sequer olhar pra mim. Então, apenas me abaixei – ainda com dor na perna atingida mais cedo – e comecei a juntar meus livros. De repente, um par de mãos brancas e grandes apareceu, pegando grande parte dos meus livros. Olhei para cima e vi Tyler, com uma expressão meio zangada e meio como se estivesse se desculpando.
- Desculpa pela Amy, Kate. Aqui estão seus livros. – Disse ele entregando meus livros para mim.
- Você não precisa se desculpar, Ty. Não foi você quem derrubou meus livros, foi?
- Não. E desculpa por hoje cedo também, eu vi você mancando. Machuquei você, não foi? – Ele havia me machucado com o jeito que me tratou mais cedo, mas não no sentido em que ele falava. Então eu disse logo:
- Eu só estava muito distraída e no lugar errado. Não foi sua culpa. Estou bem.
- Escuta Kate, tem uma coisa que eu queria te falar...
- Pode falar, Tyler. Estou ouvindo. – Eu fiquei curiosa, claro. Não eram todos os dias que garotos bonitos queriam me contar algo. Muito menos o garoto bonito que eu amava. Mas ele não correspondia. claro. E logo que me lembrei disso, toda minha empolgação sumiu.
- É o seguinte, tem algum tempo que eu... – Mas antes que ele pudesse terminar, o inspetor dos corredores gritou:
- Hei, o que vocês estão fazendo fora de suas salas? Srta. Robinson, por um acaso você tem passe? Ou você, Sr. Smith?
- Sr. Kelly, eu tropecei e derrubei meus livros, acho que machuquei a perna. – Fiz uma careta de dor - E Tyler estava apenas me ajudando a chegar à sala do Sr. Johnson.
- Se apressem então, ou vão chegar tarde. Vamos, andem, andem.
E antes que eu pudesse perguntar a Tyler o que ele queria dizer, ele apenas disse “Depois” e saiu apressado.
Nem me preocupei muito com o que ele queria dizer. Talvez eu nem quisesse saber. Quer dizer, e se ele percebeu como eu olho pra ele e resolveu me dar um fora? Ai meu Deus, e se for isso? Nem prestei atenção na aula. Estava desesperada pensando no que o Tyler teria pra dizer pra mim e como eu iria impedir que ele o fizesse.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

- E aí Kate, bom dia. Te trouxe café, olha. – Disse ele, pegando um copo grande de café da Starbucks que estava no porta-copos do carro. O meu preferido, com canela.
- Nossa, obrigada. Eu não te trouxe nada. Nem sabia que você viria. – eu estava mesmo agradecida. Ganhei café, carona e uma companhia.
- Meu pai me deixou ir para escola com meu carro hoje, eu disse que queria buscar uma amiga. E buscar de ônibus não era lá muito legal. Ele entendeu totalmente. – E ele abriu um sorriso. Tudo bem que o sorriso de Tyler iluminava a cidade toda, mas o de Zach não ficava assim tão atrás. Ele estava de óculos escuros, um Ray Ban, e os cabelos castanhos meios arruivados, no sol pareciam ainda mais ruivos. Meu coração batia pelo Tyler, é verdade. Mas ele estava comprometido e super apaixonado. Então, eu podia achar outra pessoa bonita, e não tinha problema se meu coração batia um pouco por essa pessoa também. Já se passaram umas duas semanas desde a mudança súbita de personalidade do Zach, mas ele já fazia meu coração acelerar um pouco quando sorria, ou quando me chamava pelo sobrenome (nada de romântico nisso, mas qual é. Ele sempre chamava com afeto).
- Bom, obrigada. Eu precisava mesmo de uma carona e é sempre um prazer te ver. E esse café – eu tomei um gole – é simplesmente meu preferido. – Abri um sorriso.
- Eu sei que é. Você me falou, lembra, Robinson?
- Ah é. – Não pude evitar que meu coração acelerasse um pouquinho.
Quando chegamos à escola, todos olharam pra nós. O carro de Zach era mesmo bem impressionante. Mas o fato de eu, nerd perdedora do coral da escola, ter descido desse carro com o possivelmente segundo cara mais popular da escola... Bom, isso foi bem mais merecedor de olhares que o carro. Zach parecia nem notar e muitos menos se preocupar com os olhares, por que continuou falando durante todo o caminho sobre comprar um cachorro igual ao Sherlock, por que os Beagles eram uma raça carinhosa e tudo mais. E já faziam duas semanas que ele passou a andar comigo. Ainda assim as pessoas olhavam. E eu que sou a perdedora. Vai entender.
Estava distraída conversando com Zach e virei o corredor a caminho da nossa primeira aula sem nem olhar para frente, quando Tyler me acertou, com menos força que a primeira vez, mas ainda assim forte suficiente para me jogar no chão.
Dessa vez, Zach me segurou antes que eu caísse no chão. E Tyler, um pouco mal-humorado em minha opinião, disse:
- Desculpa Kate. Não te vi. – Ele ainda parecia chateado.
- Não tudo bem, o Zach me segurou. Não me machuquei. – E tentei abrir um sorriso, apesar de sentir um pouco de hostilidade emanando de Tyler.
- Ah, que sorte que Zach estava aqui, então. Vejo você por aí. – Disse ele, meio sarcástico, e sumindo logo depois no mar de estudantes da Russell High School.
- É, isso foi estranho. O que será que deu nele? – Zach disse. Confirmando meus temores. Não fui só eu que percebi, ele estava mesmo chateado. Mas eu não fiz nada, então não poderia ser comigo. Poderia?
- Não sei. Ele deve estar chateado com alguma coisa. – respondi sem jeito.
- Venha, vamos nos atrasar. – Zach disse, segurando minha cintura e apoiando meu peso do seu corpo. Eu havia machucado um pouco a perna. Mas Zach me segurou com firmeza e me levou até a classe sem demonstrar nenhum incômodo ou cansaço.

terça-feira, 16 de março de 2010

Capítulo 3

Eu acordei tarde dessa vez, consegui dormir uma noite inteira sem acordar de madrugada nem nada. Um milagre. Provavelmente eu iria perder o ônibus, mas não estava assim tão preocupada com isso. Estava bem descansada, e apesar de ter acordado tarde, ainda me sobrava tempo pra ir andando tranquilamente para a escola. E eu superei meus problemas de ontem à noite. Guardei aquele bilhete estúpido no fundo da minha gaveta, coloquei uma saia (infelizmente, minha única roupa limpa disponível no armário) que não era bem mini, mas era bem acima do joelho. Uma camiseta mais justa, pra não cobrir a saia, e um tênis. Resolvi deixar o cabelo solto, já que ele estava completamente liso. Não olhei pra janela de Tyler nenhuma vez.
Enquanto eu descia as escadas, ouvi meu pai tentando convencer o Peter a comer uma coisa laranjada que dificilmente parecia comida. Algo de cenoura. Eca.
- Vamos Pete. Como você sabe que é ruim se você nem provou? – Meu pai tentou, em vão, fazer com que ele sequer provasse a tal coisa laranja,
- Pete não quer isso. Pete quer Sucrilhos. – Peter disse com sua vozinha de bebê mandão.
- Não, nem pensar. Você comeu Sucrilhos ontem. É só açúcar, querido. Você precisa de nutrientes para crescer e ficar bonito que nem o papai. – Minha mãe disse, numa voz que encerrava o assunto, mas ao mesmo com ternura, do jeito que só ela sabia.
- Bom dia pai, bom dia mãe. Olá Pete. – eu disse, beijando sua bochecha rosada e gordinha.
- Oh querida, você parece bem humorada... De saia? – Disse meu pai, surpreso e ao mesmo tempo preocupado. Ele não gostava muito desse negócio de saias. – Não tinha mais nenhuma daquelas suas longas calças rasgadas?
- Ora essa, Phill, por favor. Ela está linda. Veja que mocinha adorável ela está. E a saia nem é assim tão curta. – Minha mãe disse, beijando o ombro do meu pai enquanto passava por ele e me olhava. – Querida, você não vai perder o ônibus?
- Ah mãe, eu acho que já perdi – disse, olhando para o relógio. – Mas não tem problemas, eu ainda estou com uns quarenta minutos sobrando, não me importo de andar. Está um lindo dia.
- Er, bom, eu acho que tudo bem então. Coma seu cereal e vá logo, para não se atrasar. – Meu pai disse, beijando o topo da minha cabeça. – Tenho que ir, o Sr. Carter precisa de mim mais cedo essa manhã. Tchau, querida. – Disse beijando minha mãe, com um beijo rápido, mas ainda assim muito amoroso e depois se virou para Peter – E você mocinho, coma seu mingau.
Demorei no café mais do que gostaria, e já não tinha assim tanto tempo para andar, então, apressei o passo. Quando já estava quase na ponta da rua, vi uma BMW muito conhecida vindo em minha direção, Zach ao volante com seu sorriso perfeito, acenou para mim e parou ao meu lado:
- Hei garota bonita, quer uma carona? – Ele disse, fazendo uma triste imitação de um comercial de carros.
- Hum, não sei. Você sabe mesmo dirigir isso aí? – entrei na encenação, já abrindo a porta.

sexta-feira, 12 de março de 2010

O resto da semana de fato passou, rápido e divertida. Mas eu ainda via Tyler todas as noites pela janela, meio triste, quebrando minha promessa seguidamente de não espiar mais. Quase todos os dias ele sentava na poltrona dele para ler algo ou ficava simplesmente com o olhar perdido. E eu comecei a me preocupar com ele. Tanto que um dia, perto das oito da noite, eu resolvi tomar uma atitude. Eu estava com meu caderno de desenho e escrevi:

“Hei, você parece triste, tá tudo bem?”

E quando ele levantou os olhos e me notou encarando, ele abriu um sorriso e acenou. E eu levantei o meu caderno para que ele pudesse ler. Ele abriu um sorriso mais sincero dessa vez e procurou folhas para responder, quando achou escreveu algo e levantou para que eu visse:
“Nada, só outra briga boba com a Amy.”
Essa era nova, eles ainda estavam brigando? Mas já se passou mais de uma semana. Será que era sério? Eu agora me preocupei de verdade, quer dizer, Tyler estava com essa garota (por mais maldosa que ela fosse) por quase um ano agora. E se ele ficou tanto tempo com ela, provavelmente alguma coisa boa ela tinha. E ele parecia gostar dela... Até amar, eu acho. Senti um aperto no coração ao pensar nisso, mas eu não podia ser egoísta agora. Eu não podia torcer que eles terminassem, ele não iria ficar comigo nem nada. Era idiota pensar nisso. Daí eu escrevi, de coração, pra ele:

“Sinto muito”

Ele levantou os ombros demonstrando que não era minha culpa e provavelmente que não havia nada que eu pudesse fazer. Eu abaixei a cabeça e escrevi “Eu te amo” em outro papel, um ato estúpido até pra mim. Por um momento cheguei até a pensar em levantar e mostrar pra ele, mas acho que demorei demais, por que ele acenou novamente, levantou-se e saiu do quarto.
Eu fiquei chateada. O que aquele papel idiota significava? Eu amava mesmo o Tyler? Acho que sim. Eu sempre achei que fosse só uma quedinha, uma bobagem. Mesmo quando eu tinha só dez anos, eu sempre imaginei que a gente ia casar e ser feliz pra sempre. Um sonho de criança. Mas aqui estava eu, com 17 anos, no final do segundo ano, apaixonada perdidamente pelo cara mais popular da escola. Eu deitei e dormi, desejando que aquele amor sumisse durante a noite. Eu não podia me permitir amar o Tyler. Ele claramente amava outra pessoa. Eu não podia amá-lo de jeito nenhum. Mas meu coração não entendeu isso. E eu olhei aquele papel amassado em cima da mesa mais uma vez.
Ah, ele não entendeu mesmo. Coração idiota.

terça-feira, 9 de março de 2010

- Claro. – Abri até um sorriso. Ele estava me defendendo. Isso era surpreendente e até meio fofo da parte dele. – Deixa pra lá.
- Oh, que lindo. Agora eu vou vomitar. – Amy disse com sua voz extremamente irritante. Sério, as vezes eu não entendia como Tyler acabou namorando essa garota. Ela é totalmente maldosa. – Defendendo a nerd, Zach? Não seja ridículo. E você garota, se enxerga.
- Se enxerga você, Amy. – Ash foi dizendo, toda vermelha. O que é difícil, uma vez que ela já é tão morena e coisa e tal. –Seu lugar definitivamente não é aqui. Então, você escolhe... Vai sair daqui e ir pra sua mesa inteira e voluntariamente? Ou será que eu terei que te mandar em pedaços? – Até eu fiquei com medo dessa, sério. A Ash tem tipo 1,80 de altura. Ela é até mais alta que eu. E eu tenho bons 1,75 de altura. E ela é toda magra e linda, mas é bem forte. E sabe ser ameaçadora quando quer. E a Amy percebeu, por que ficou vermelha que nem um tomate e saiu rapidinho.
- Uau. – Zach disse, surpreso e com certa admiração. – Você sabe ser durona hein.
- Só quando eu preciso ser. – Disse Ash, sentando-se do lado de Josh, que a abraçou com força e disse que ela era a melhor. – Senta aí, cara. Pode ficar a vontade.
- É... obrigada por me defender. Você também Ash. – eu disse de maneira afetuosa. – Se importa de sentar com uns fracassados, Zach? - Sorri abertamente.
- Bom, depois dessa, desafiar a Capitã das líderes de torcida no refeitório e tudo mais, acho que eu me tornei um fracassado também. – E riu.
- Ah, acho que não. – disse Jess, com sua voz confiante de sabe-tudo – Você ainda é o melhor Running Back da temporada e provavelmente da história desse colégio. Jogadores de futebol aqui são populares até sem querer. Ainda mais os bons.
- Ah, Valeu, eu acho. Mas tanto faz. – Ele respondeu bem humorado, como se pouco se importasse em ser um fracassado ou não. Eu aproveitei a companhia do meu mais novo amigo Zach durante todo o almoço e até a caminho da sala. Conversamos até o Treinador Winchester nos obrigar a jogar. Zach piscou pra mim e perguntou se eu queria ser parte do time dele de vôlei hoje. E eu aceitei, claro. Jogava até bem, mas nunca ninguém me escolhia, então eu era sempre reserva.
A aula passou depressa, mas eu me diverti bastante. Quer dizer, geralmente Educação Física é uma tortura pra mim, por que geralmente eu só assisto ou corro em volta da quadra central do ginásio, com os que não gostam de jogar. Mas hoje, eu fiz (e me senti) parte de um time. Joguei com Zach e alguns amigos dele. E eu estava começando a me sentir bem em relação a tudo. Não sei o que aconteceu para o Zach de repente me tratar bem, mas eu sei que eu gostei do novo Zach, mais do que deveria até. E a Amy me deixou em paz. Na verdade o resto da semana foi passando sem problemas. Nossa mesa tava lotada, claro. Zach agora se sentava lá quase todos os dias, e alguns dos amigos dele foram junto. Só os mais próximos, como eles próprios explicaram, por que os outros estavam com medo de andar com a gente e acabarem ganhando o status de fracassados. O que, em minha opinião e de todos os novos e velhos integrantes da mesa, os tornavam fracassados de fato.

segunda-feira, 8 de março de 2010

- Hei gente, - eu fui dizendo, antes que essa conversa fosse longe demais – Escutem, o Zach não tá afim de mim coisa nenhuma. E ele não é idiota, ok? Ontem ele me ajudou a cuidar do Pete e tudo mais, mas ele é só um amigo. Então, voltem a comer ou a fazer sei lá o que e deixem esse assunto pra lá. Não tem nada a ver ficar falando sobre isso. – Eles todos me encararam, mas me obedeceram. Jess e Lizzie voltaram a discutir sobre CSI e Josh e Ash... Bom, começaram a se agarrar. E eu comecei a desenhar. Estava tudo normal novamente, quando de repente eu senti uma pancada na minha cabeça. Não foi nada muito forte, mas me fez borrar meu desenho e eu senti um formigamento fraco. Olhei pra cima e vi que Amy tinha me acertado “sem querer” com sua nova bolsa de grife e parou para me encarar, provavelmente esperando uma reação, com uma cara de inocência e sarcasmo ao mesmo tempo. (O que é um feito e tanto, se você quer saber minha opinião). E antes que Ash, que já estava até vermelha, fizesse ou dissesse algo, eu me levantei para perguntar a Amy qual era o problema dela, mas vi a cabeleira ruiva de Zach logo atrás dela e ouvi a voz grave dele dizer:
- Vai pedir desculpas para ela, Amy? – Eu percebi que ele estava um pouco alterado quando disse isso.
- Há Há. Eu? Não vou pedir desculpas coisa nenhuma. Acorda, Zach. Qual é a sua? Defendendo essa... Coisa. – Ela disse com desprezo.
Veja, eu não gosto de ser chamada de coisa, eu não sou nenhum bagulho. Eu sou até bonitinha, sabe? Talvez não entenda nada de grifes, de saltos altos ou mini saias, mas eu também não sou “coisa”. Então, meio que a coisa toda me ofendeu um pouco. Mas antes que eu pudesse fazer algo, Zach disse com ainda mais desprezo para ela:
- A Kate – Disse ele, enfatizando meu nome. Deixando claro que eu tinha um. – estava aqui numa boa e você veio, numa atitude totalmente estúpida , Amy, e acertou ela com a bolsa. Então a “coisa” aqui é você. – e pra mim ele disse – Você tá bem?

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

- Não, tá tudo bem. – Ele pareceu surpreso que eu tenha percebido, e apesar de ter negado, o sorriso ainda parecia triste. – Eu... Bom, a Amy ficou chateada ontem a noite, por que eu não tava com humor pra sair. Brigamos, eu acho. Na verdade, ela brigou comigo. – Ele deu uma risada tentando demonstrar que não era grande coisa, mas até a risada dele foi triste.
- Hum, vai ficar tudo bem, sabe. Ela vai entender. É só conversar com jeito. – Eu não fiquei feliz como achei que ficaria sabendo dos “problemas no paraíso Amy-Tyler”. Na verdade, me chateou. Tyler estava triste, e se esses problemas impediam que o mundo visse o sorriso sincero e perfeito dele, bom, eu não ficava feliz. Eu tinha uma queda por ele, claro, mas queria vê-lo feliz.
- É – ele começou sem jeito – Eu vi o Zach ontem, no seu quarto. Vocês agora são amigos ou o quê?
- Amigos. – Falei sem muita segurança. Pensei um pouco sobre isso, acho que essa é uma boa definição para o que Zach estava se tornando – É, eu acho que sim.
- Eu... – Ele ia dizer algo, mas não pôde, por que alguém chamou meu nome e quando reparei, era Zach que acenou e indicou com o dedo que eu fosse até ele. E eu olhei para Tyler que se limitou a dizer – Vai lá. Vejo você por aí. E eu vim para escola ao lado de Zach, conversando sobre a música que eu havia lhe mostrado ontem.
Quando percebi que quase todos os meus amigos já tinham saído da sala, eu me levantei e fui em direção ao refeitório, onde contei para Ash grande parte da história. Ela estava entusiasmada e me pediu todos os detalhes possíveis. E eu dei. Contei sobre Sherlock e Peter terem adorado Zach, sobre o abraço, sobre o olhar de raiva de Tyler e tudo mais, inclusive o que aconteceu hoje no ônibus. Ela disse:
- Uau. O Zach nem parece ele mesmo. Quer dizer, desde que você voltou da Califórnia ele te trata mal, e ontem do nada ele é outro cara. Vou te falar, garota, ou ele tá te enganando agora, ou ele tá afim de você. – Eu fiquei encarando a Ashley. Fala sério. Afim de mim? O Zach? Não mesmo. Ele precisava de ajuda com história. Só isso. Suspeito até que ele é bem legal, e que guardava a maldade só pra mim e pros outros nerds da escola. Mas quase todos os populares faziam isso, certo? Eu encarei a Ash um pouco mais, ela é quase uma top model. Sério. Ela tem o cabelo igualzinho o da Kari Hilson, sabe? Um corte moderno e curto. Preto cheio de mechas mais claras. E ela é morena pra valer. Uma pele bonita e bem cuidada que ela diz que é obra de arte. Eu não conseguia entender por que ela andava comigo, mas ela nunca gostou da galera popular. Sempre foi meio rebelde. Josh finalmente se concentrou em mim e disse:
- Sabe K. eu acho que a Ashley tem razão. Esse cara tá armando, ou tá afim de você. – Disse ele, apoiando a namorada.
- Quem tá afim da Kate, Josh? – Disse Jess, sentando com a Lizzie no lugar de sempre.
- O que? Tem alguém afim de você Kate? Que bom... Quem é? – Lizzie disse, toda entusiasmada.
- Zach Carter. – Ashley e Josh disseram ao mesmo tempo em que eu disse:
- Ninguém tá afim de mim... – Já zangada.
- Mas o cara é um completo idiota. – Jess falou horrorizado.
- Jess, ele não é assim tão ruim. – Lizzie falou.
- Ah, desculpa dizer Lizzie, mas é sim. – Jess foi dizendo – Quer dizer, o cara tá quase reprovando. Ele é só um conjunto de músculos sem cérebro.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Nem percebi que a aula tinha acabado até que vi meus colegas levantando e saindo da sala em direção ao refeitório. Zach passou por mim e piscou. Isso aí. Ele piscou pra mim. Acho que ele ainda era o mesmo Zach simpático de ontem. Por que hoje eu não perdi o ônibus, e quando entrei percebi que nenhuma das cópias de Zach, ou o próprio Zach, estavam rindo nem zombando de mim hoje. Na verdade, eles até me cumprimentaram quando passei por eles para sentar no fundo. Tudo muito estranho, mas todos aqueles “Olá Kate” que eu ouvi quando entrei não eram coisa da minha cabeça. Pelo menos, eu esperava que não. Só sei que apesar de tudo ser muito surreal, eu esperava de verdade que a mudança de Zach fosse permanente, por que minha vida seria infinitamente mais fácil. Outra surpresa minha essa manhã, ao entrar no ônibus, foi perceber ninguém menos que Tyler Smith sentado distraído no fundo. Quando me sentei ao lado dele, o único disponível no ônibus, ele olhou pra mim e abriu um sorriso triste.
Já mencionei que o sorriso de Tyler era capaz de iluminar a cidade toda? Sério. Ele tinha dentes brancos e perfeitos. E os olhos deles sorriam também, o verde se destacando ainda mais, como se tivessem sido iluminados. Mas aquele sorriso no rosto dele no momento era só uma sombra do que geralmente é. Ele estava triste. Mesmo anos sem vê-lo, eu ainda sabia quando ele estava triste. Em alguns aspectos, ele ainda era o mesmo Tyler da minha infância. Então eu perguntei, tentando não ser indiscreta, mas querendo ajudar:
- Tá tudo bem? Você parece... Triste. – Ele nunca pegava o ônibus, geralmente Amy vinha buscá-lo ou ele ia com o próprio carro. Então algo estava errado.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

- É. Ele é meu vizinho. Não sabia? – Eu disse casualmente. Com o coração aos pulos pela vista de Tyler sem camisa e com medo de que Zach fizesse alguma gracinha.
- Não, não sabia. Cara, dá pra ver o quarto dele daqui. Então ele também pode ver o seu. Não é uma boa idéia deixar sua cortina aberta, sabe. – Ele disse, meio indignado, o que foi até engraçado. E surpreendente também.
- Duvido muito que Tyler fique olhando pra cá, e eu fecho quando vou dormir ou me trocar, se é isso que você quer dizer.
- Eu tenho certeza que olha sim. Ele é um garoto.
Eu ri e levantei pra fechar a cortina, para que Zach parasse de ser tão bobo, mas de repente Tyler olhou pra minha janela e sorriu pra mim. E logo reparou em Zach, logo atrás de mim. Ele ficou com uma expressão estranha, um pouco surpresa, mas eu podia jurar que também era de raiva. E então, com apenas um rápido e indiferente aceno com a cabeça, ele fechou a cortina com violência. E Zach disse:
- Ele é meu capitão no time e tudo mais, mas as vezes ele é um esquisito. – depois deu uma rápida olhada para o relógio e continuou -Hei, já esta ficando tarde, eu preciso ir.
- Ah. Tudo bem. – Eu ainda estava atordoada, nunca vira Tyler com raiva antes. E nada explicava aquela raiva. Será que era por que eu estava espiando pela janela? – Eu desço com você. Vamos. – Janela idiota. Eu prometi a mim mesma nunca mais espiar enquanto descia as escadas com Zach. Que rapidamente me tirou dos meus devaneios:
- Hã, Kate. – ele foi dizendo meio sem graça.
- Sim? – Eu respondi sorrindo. Afinal, Zach foi um amor com meu irmão hoje, e não fez nenhuma piada ruim nem nada, então eu tentei ser o mais simpática possível. – Pode falar.
- Obrigado, er, pelas aulas e tudo mais. Foi muito legal. Na verdade, seus pais, seu irmãozinho foram muito legais também. E você me ensinando e tudo mais, eu não merecia. Não depois de te tratar tão mal todo esse tempo. Mas valeu. De verdade. – E me abraçou na porta da minha casa. Rápido e um pouco desajeitado, mas definitivamente um abraço.
- Disponha sempre que precisar, Zach. E obrigada você, Peter te adorou. E meus pais também. – eu disse, ainda sem me recuperar do abraço. Nenhum garoto nunca me abraçou, só o Pete. E ele é um bebê, não é bem um garoto ainda. Então não conta, acho. – Até logo.
- Até. – Disse Zach já indo embora.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

- Oh, olá Kate. Quem é aquele jovem bonito no quintal dos fundos com Sherlock e Peter?
- Ah mãe, é meu colega da escola, Zach Carter, eu vou ajudá-lo a estudar hoje.
- Hum, você não me disse que teria visitas. – Epa. Justo o que eu temia. Mas antes que eu pudesse pedir desculpas ela continuou – Oh Querida, eu poderia ter trago um lanche para vocês ou algo. – Isso me surpreendeu. E eu respondi:
- Ah mãe, não se preocupe, Maria esta fazendo um bolo para nós. Bom, é melhor eu ir lá ajudar o Zach com o Pete.
- Faça isso mesmo. Depois o traga aqui pra dentro, eu gostaria de conhecê-lo , querida. – E como sempre fazia, ela me deu um beijo na testa e subiu para se trocar, e eu tratei de correr e ir lá socorrer Zach.
- Zach. – Eu gritei pra ele, e ele olhou pra mim e sorriu.
- Hei. E aí? O Peter aqui tava me mostrando o Sherlock. Belo cão. Bem educado.
- Lock bonzinho. – Peter disse, todo orgulhoso.
- Ah sim – Eu disse - é, ele é um bom cão. Bom, Maria esta fazendo um bolo e o lanche não vai demorar. Mas enquanto isso é melhor começarmos a estudar, não?
- Ah sim, claro. – Zach disse, e então se voltou para Peter – Desculpa, campeão, mas tenho que ir. Depois você me mostra tudo direitinho, tudo bem?
- Ah não. – Peter estava fazendo bico. O que era bem irresistível as vezes. Zach então bagunçou o cabelo de Peter e disse:
- Ah, vamos lá, carinha. Eu prometo que depois eu brinco com você, tá?
- Promete mesmo? – Peter disse, já mais feliz.
- Claro. Agora, vamos entrar. – E para mim disse – Vamos, Kate?
E assim viemos os três parar na sala. Minha mãe já estava no sofá, com um exemplar de um de seus enormes e potencialmente chatos livros da Universidade. Ela era muito bonita. Seu cabelo loiro e longo estava preso em um rabo de cavalo, e quando nos ouviu chegando, levantou seus olhos surpreendentemente azuis e profundos e disse com um sorriso:
- Ora, Ora. Olá. – Disse para Zach e levantou-se para cumprimentá-lo. – Você deve ser o Zach, tudo bem?
- Ah, sim. Zach Carter, Sra. Robinson, muito prazer. – Disse ele, apertando a mão da minha mãe. Que imediatamente disse:
- Ah, nada disso, querido. Pode me chamar de April.
- Tudo bem, April – disse ele com relutância. – A senhora tem uma bela casa.
- Obrigada. Sinta-se a vontade. – Ela abriu seu lindo sorriso e perguntou pra mim – O que vocês vão estudar hoje?
- História, mãe. Zach precisa de ajuda e você me ensinou bem, então vou compartilhar o conhecimento. – E ri da maneira mais convincente que pude.
- Hum, muito bem então. Se precisarem de algo, estarei no meu escritório lá em cima, ok? Bom estudo, crianças. – E assim ela levou Peter pra cima, me deixando praticamente sozinha com Zach. Eu estava preocupada, é claro. Mas durante todo o resto do dia Zach portou-se como um cavalheiro.

Subimos pro meu quarto com nossos livros e eu ensinei a Zach tudo que ele pediu. Tirei todas as dúvidas e até fizemos nossos deveres juntos. Meu pai chegou em casa e surpreendeu-se ao ver o filho do seu chefe sentado no chão do meu quarto, mas logo se recuperou e até o convidou para jantar conosco. Ele aceitou e até me ajudou com a louça depois. Subimos de novo pro meu quarto para terminar os deveres quando ele observou:
- Hei, aquele ali é o Tyler? – Disse, olhando para janela do quarto do Tyler, que estava sem camisa, caminhando pelo quarto.